sexta-feira, 7 de novembro de 2008

REFORMA AGRÁRIA: O MESSIAS DO PONTAL

Depois de 1850, quando então foi criada a “Lei” das Terras, herança que deixou para o Brasil os enormes latifúndios, tudo o que foi feito com os recursos naturais tem uma concepção mercadológica, isto é, o que vem de “Gaia”, a Mãe Natureza, é algo a ser captado e não cuidado, é explorado. Não precisa ser acadêmico para perceber a grande injustiça social que reside no Brasil, e em particular no Pontal, gerada por esta errônea concepção. Segundo os estudos realizados pela UNESP e Ong’s da região, o Pontal sofre um processo de arenização e sofrerá ainda mais agora com o aumento do cultivo da cana e suas queimadas (vale lembrar ainda os problemas respiratórios que enfrentaremos dentro em breve - as principais vítimas são as crianças e idosos). Desta forma, para que haja reflorestamento, parcimônia com a água e, frente aos exemplos, uma consciência ecológica, torna-se mais que urgente a reforma agrária de forma efetiva, isto é, não só como distribuição de terra que beneficia as famílias sem-terra, mas fazer acontecer a reforma agrária beneficiando as famílias sem-terra, alavancando assim a produção da agricultura familiar e, incentivar nos assentamentos o reflorestamento e o desenvolvimento sustentável, em outras palavras, o Brasil-Pontal precisa da reforma agrária para sobreviver, pois a revolução protetora do meio ambiente só acontecerá na base, nas células que são as pequenas propriedades que cultivam a diversidade e protegem sua única riqueza, o meio ambiente. Muitas dessas medidas, onde são possíveis, acontecem. Chegamos ao limiar da situação, não devemos esperar mais impactos, não é mais o útil e o agradável, é o útil e o útil! Legalizar os latifúndios do Pontal e do estado, como quer o governador José Serra é, no mínimo, decretar e formalizar a pobreza e o retrocesso sócio-econômico regional. Se o latifúndio fosse bom pra todos, seríamos uma região super-desenvolvida.
Outro tema interligado é o interesse que os grandes empresários têm nos reservatórios de água. Sabemos, e bem, que o Aqüífero Guarani está sob nossos pés, a exploração dele no futuro será regrada pelo que fizermos hoje na superfície, isto é, faz-se necessário democratizar a terra, distribuí-la para que se democratize a água às futuras gerações. O crime do latifúndio, da falta de terra, deve parar, para que não se cometa o crime que levará a sede, inclusive a nós e aos nossos filhos. Penso que, ainda mais agora, a reforma agrária se torna interesse de todos, do comerciante, do autônomo, e até do próprio latifundiário. Sem a divisão em pequenas propriedades o reflorestamento, o cuidado para com a água, a própria vida, se perderá em meio aos canaviais e invernadas. A Reforma Agrária é problema de todos e condição às futuras gerações. Nós que vivemos aqui devemos lutar para assegurar no futuro, ao menos, o mínimo à vida e não esperar de representantes envolvidos em escândalos, como da “Máfia das Casinhas”, os direitos a serem conquistados.
Para não ser injusto, quero aqui lembrar e considerar a geração de emprego das diversas usinas, mas por outro lado sabemos que o calote de algumas, no que tange a empréstimos, tributos e etc... corrói ainda mais a carne dos últimos da fila, isto é, dos menos favorecidos da sociedade, nós.
Que não herdemos dos latifúndios, da monocultura e da corrupção intrínseca de alguns políticos o que vários já herdaram e que, infelizmente, tão bem cantou Chico Buarque: Esta cova em que estás com palmos medida, É a conta menor que tiraste em vida, É de bom tamanho nem largo nem fundo, É a parte que te cabe deste latifúndio! Que diante da Vida caiam todos os grilhões e emerja dos corações a consciência fraterna.

Publicado no sítio www.adital.com.br

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