domingo, 30 de novembro de 2008

O BISPO DOS POBRES DO PONTAL

A história do Pontal do Paranapanema não é nada gloriosa. Quem teve o “privilégio” de ler obras como “A ocupação do Pontal do Paranapanema”, do ilustre professor José Ferrari Leite, ou a obra do francês Pierre Monbeig “Pioneiros e Fazendeiros em São Paulo”, ou o trabalho de “profetas” da Academia, como é o caso do professor Mançano e do professor Munir, e, principalmente, a vida daqueles que vivem a realidade na carne, entende, sem se contaminar com as pseudo-teses da “velha oligarquia”, que a postura de Dom José Maria em defender a reforma agrária e, principalmente, os sem-terra e outros grupos sociais, é mais que tomar um partido: é uma coerência histórica para com aqueles que durante toda a vida foram explorados e massacrados nesta região, conseqüência do luxo da burguesia.
Além disso, como dizia Pe. Dehon: “Se as injustiças sociais não são pecado, então não existe mais pecado”. O verdadeiro Homem de Deus não sossega enquanto não vê seu rebanho provido também das necessidades temporais e, além disso, tal posição em favor dos mais necessitados é um imperativo, um mandado do Senhor: “apascenta minhas ovelhas” (Jo 21,15).
Não recordo bem a data, mas creio que há uns três anos, quando soube das prioridades de ação da diocese de Presidente Prudente, tive um estupor, obviamente de felicidade. O Bispo, juntamente com sua equipe, priorizou três linhas de ação para o trabalho no Pontal: Reforma Agrária, Família e Presídios. Ao analisar as três linhas de ação pastoral, qualquer pessoa percebe a prioridade: a pessoa humana na sua maior fragilidade. Isto é, consonância com a finalidade do Verbo: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em plenitude” (Jo. 10,10).
A opção pelos menos favorecidos é um ato de coragem, pois enquanto a maioria acompanha a “nova onda”, Dom José, com postura de pastor, enviado por Deus (ecce venio - Hb 10,7), servo escolhido (ecce ancilla, Lc 1,38), em sintonia com os sinais dos tempos (Gaudium et Spes), instaura o Reino do Coração de Cristo nas almas e na sociedade (Adveniat Regnun Tuum - Mt 6,7) do Pontal do Paranapanema.
A aposentadoria de Dom José não é um adeus, até porque ele continuará presidindo a CPT Regional Sul-1 e sempre apoiará, com sua sabedoria e ação, os movimentos de reforma agrária, de direitos humanos, de valorização da Família e tantos outros... Dom José Maria é ao mesmo tempo homem de Deus e homem do Mundo, protagonista de seu tempo, filho de Deus encarnado, pregando o Reino de Jesus na sociedade, que é o Reino da justiça, do amor, da misericórdia, da compaixão pelos pequenos, pelos humildes e pelos que sofrem. Entendeu que novas necessidades exigem novas ações, pois é preciso mostrar que a Igreja não é apenas capaz de formar almas piedosas, mas também capaz de fazer reinar a justiça, da qual os povos estão famintos.
Lembro-me da cena do filme que relata a vida de Dom Oscar Romero, Bispo morto de El Salvador, quando uma camponesa chega a ele e diz, com voz sofrida e olhar de esperança: “Dom Oscar, o senhor é nossa única voz”. Assim é dom José Maria, Bispo dos sem-voz, Bispo dos pobres do Pontal. Sua voz não calará, pois é eco do Verbo, e, como ele mesmo nos ensina, “quem não é sensível aos problemas sociais não pode ser chamado de filho de Deus”!

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