quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

AGRICULTURA E DEFESA DA VIDA

publicado no Oeste Notícias em 01 de janeiro de 2009


Nossa região, infelizmente, é marcada pela desigualdade. Grande parte dessa desigualdade é fruto do acúmulo de terras e da pouca preocupação com políticas que envolvam o pequeno proprietário, privilegiando apenas o agronegócio. O que muita gente não sabe é que quem de fato coloca alimento na mesa do brasileiro são os pequenos proprietários de terra. Um dos motivos é porque a produção do agronegócio tem destino certo: o mercado mundial. Mas o principal é que a propriedade familiar, com produções diversificadas, são as que mais produzem, quantitativa e qualitativamente.

Segundo dados do INCRA e IBGE, (censo agropecuário), e organizadas por Ariovaldo Umbelino, indicam que as pequenas propriedades, até 200 hectares, são responsáveis por 55% da produção de algodão, 75% do cacau, 70% do café, 51% da laranja, 85% da banana, 74% da batata-inglesa, 78% do feijão, 99% do fumo, 60% do mamão, 92% da mandioca, 55% do milho, 76% do tomate, 61% do trigo, 97% da uva, 72% do leite, 79% dos ovos, 86% dos animais de médio porte, 85% dos animais de pequeno porte e aves. A média propriedade só produz mais do que a pequena: cana-de-açúcar, 47%, soja 44%, arroz 43%, bovinos 40%. E a grande propriedade apenas produz mais que a pequena: cana-de-açúcar, 33%. São dados praticamente desconhecidos da população e opinião publica, entretanto de importância incontestável. Como bem salienta o professor Mançano da Unesp-PP, a grande artimanha do agronegócio é absorver os dados da produção do pequeno agricultor e convencer as pessoas da sua viabilidade apresentado dados do total da produção como seus. Outro ponto interessante é que a pequena propriedade gera mais emprego, mão-de-obra, isto é 86,6% do total, enquanto a grande propriedade gera apenas 2,5%.

Outra realidade trágica na nossa região é a degradação do meio ambiente pelo agronegócio. Esta realidade remonta ao século XIX, quando do povoamento na região e da “legalização” do latifúndio. Todavia, com o crescente cultivo da cana-de-açúcar e pecuária, áreas de grande valor ambiental foram tratadas com toda agressividade, gerando inúmeros impactos, tanto no desmatamento ou no uso de inseticidas, herbicidas, fertilizantes, grandes provocadores de doenças, principalmente do câncer.

Inconteste é a posição central da pequena propriedade no verdadeiro e justo desenvolvimento agrícola e na preservação do meio ambiente na região. Para que os dados de produções cresçam é necessário incentivarmos a produção nas pequenas propriedades. Cercados pelos latifúndios, também devemos lutar pelo termino desse “estupro social” e, numa sã reforma agrária, proporcionar maior produção, com diversificação. Consequentemente, na pequena propriedade, o controle da preservação do meio ambiente e políticas de recuperação de áreas degradadas são muito mais fáceis, gerando melhores resultados.

Creio que a grande contribuição de Presidente Prudente, considerada pólo regional, próxima de seu centenário, com suas lideranças, movimentos sociais, ONG’s, Igrejas e todo povo de boa vontade, é incentivar projetos agrícolas e ambientais que contemplem a vida em primeiro lugar, com uma ética ecocêntrica, visando o futuro das novas gerações e devolvendo aos desprovidos a chance de recuperarem a dignidade.

Nenhum comentário: