Em 11 de setembro de 1962, pelas ondas da rádio do Vaticano, vários bispos ouviram o papa João XXIII expor alguns temas que seriam diretrizes do Concílio, ou como preferiram chamar: pontos luminosos. Um dos pontos foi “a Igreja dos pobres”. Entretanto, o maior impacto ainda estava por vir, o cardeal arcebispo de Bolonha, Giácomo Lercaro, no final da primeira sessão, precisamente no dia 6 de dezembro de 1962, disse algo que abalou toda e qualquer perspectiva reacionária. Em suas palavras convocava o Concílio a adotar uma linha de trabalho, um eixo que orientaria as discussões e pudesse dar as respostas adequadas às necessidades. Dizia: “Esta é a hora dos pobres, dos milhões de pobres que estão por toda a terra: esta é a hora do Mistério da Igreja mãe dos pobres, esta é a hora do Mistério de Cristo no pobre”, e pediu que a temática central do Concílio fosse “o mistério de Cristo nos pobres da terra”.
Logo após o concílio, vários bispos se uniram nesse ideal de pobreza, a maioria do terceiro mundo, e renunciaram a todos os privilégios eclesiásticos, vivendo assim para os pobres, numa simbiose de fé e justiça. Dentre eles, para exemplificar, dom Hélder Câmara, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Paulo Evaristo e vários padres e religiosos/as assessores do Concílio.
Dá-se início na América Latina uma nova perspectiva de trabalho. Paulo VI no final do Concílio, dizia: “Possivelmente, nunca como durante este Concílio se havia sentido a Igreja tão impulsionada a aproximar-se da humanidade que a rodeia, para compreendê-la, servi-la e evangelizá-la em suas mesmas e rápidas transformações”. E “No rosto de cada ser humano, sobretudo se tornou transparente por suas lágrimas e dores, podemos e devemos reconhecer o rosto de Cristo”. De lá pra cá dedicam-se à criação, sistematização e execução de um trabalho pastoral, em conjunto com igrejas e grupos, denunciando as estruturas de injustiças, promovendo a vida do pobre, com dignidade e conscientizando-o de seu protagonismo. Aproximar-se da vida, como ela é, numa luta diária, tentando romper as estruturas que excluem e escravizam, é o papel não só de cristãos, mas de todas as pessoas que reconhecem no Natal o dia da Esperança.
Do lugar que estamos podemos nos armar dos verdadeiros fundamentos da vida e, como testemunhas da Esperança que jamais pode ser perdida, ver no rosto do outro, principalmente do necessitado, dentro do seu olhar, o nascimento do Cristo, menino-Deus, Emanuel, que na noite escura nos trouxe a verdadeira Luz.
Estender a mão é o mesmo que levar incenso, ouro e mirra a Jesus que nasce no estábulo. Sinal de Vida Plena e Esperança!